A BORBOLETA EMBRIAGADA

Como são estranhos os sinais –

Com mais ou menos grandeza –

Naqueles fenómenos reais

Que dão vida à Natureza.

Toda a Natureza está dispersa

Por entre bosques e planícies

Cada fisionomia é diversa,

E tem diversas superfícies.

São ervas, e plantas, e árvores,

São seres viventes temporais

De baixa estatura e enormes,

Corpúsculos inertes ou vegetais.

No ténue alvor da madrugada

Tocada p´ las asas da brisa

Vai a borboleta engalanada

Em busca do que ela precisa.

Pelos ramos da medronheira

Vislumbra o fruto ambicionado

E pousa incauta e aventureira

Num belo medronho encarnado.

- Ai que doçura apaixonada

Tem este néctar delicioso!

Diz a borboleta embriagada

Saboreando o fruto apetitoso.

Não se aguentou a borboleta:

Sentiu do mundo a rotação

E numa zonzeira completa

Caiu na teia da tentação.

Passou voando o esperto gaio

À procura do mesmo fruto

E, ao ver a bela em desmaio,

Saboreou-a como conduto!

Retira-se da fábula oportuna

Sublime lição de espantar,

Que ninguém tem culpa nenhuma

Da mãe-Natureza enfeitiçar…

O ser humano foi criado

Pra sobreviver com prazer

Mas nunca para ser enganado

Nos ardis que ela possa ter!

Frassino Machado

In RODA-VIVA POESIA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 27/09/2019
Reeditado em 27/09/2019
Código do texto: T6755250
Classificação de conteúdo: seguro