A BORBOLETA EMBRIAGADA
Como são estranhos os sinais –
Com mais ou menos grandeza –
Naqueles fenómenos reais
Que dão vida à Natureza.
Toda a Natureza está dispersa
Por entre bosques e planícies
Cada fisionomia é diversa,
E tem diversas superfícies.
São ervas, e plantas, e árvores,
São seres viventes temporais
De baixa estatura e enormes,
Corpúsculos inertes ou vegetais.
No ténue alvor da madrugada
Tocada p´ las asas da brisa
Vai a borboleta engalanada
Em busca do que ela precisa.
Pelos ramos da medronheira
Vislumbra o fruto ambicionado
E pousa incauta e aventureira
Num belo medronho encarnado.
- Ai que doçura apaixonada
Tem este néctar delicioso!
Diz a borboleta embriagada
Saboreando o fruto apetitoso.
Não se aguentou a borboleta:
Sentiu do mundo a rotação
E numa zonzeira completa
Caiu na teia da tentação.
Passou voando o esperto gaio
À procura do mesmo fruto
E, ao ver a bela em desmaio,
Saboreou-a como conduto!
Retira-se da fábula oportuna
Sublime lição de espantar,
Que ninguém tem culpa nenhuma
Da mãe-Natureza enfeitiçar…
O ser humano foi criado
Pra sobreviver com prazer
Mas nunca para ser enganado
Nos ardis que ela possa ter!
Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA