O QUE O AMOR NÃO CONTA
Hoje sou lobo solitário
Não me telefona (que coisa mais demodê)
Mais ainda funciona
Sou homem sem dona
Minha vida hoje e amanhá é mundana
Pra trás não volto nem me revolto
Me solto apenas nas penas das aves do agora
Passam as horas, os agouros, e as rugas se rasgam
Se alastram os medos e os arremedos que nos devora
Não quero saudade é coisa pra relicário
Atras de mim só há morte, passado
Na minha frente há caminhos a seguir
Mesmo na gaiola canta feliz o canário sedentário
Ignorar... eis a arma mais letal da humanidade
Ignoro tudo e todos, sou livre pra viver
Não tenho que bater ponto
Só sou preso em meu ser...
Amo o meu viver
Sou assim tornei-me livre
Esqueci o porquê?
Sou dono de mim
E não em quem em mim vive
Viva a cuba libre...
Neste mundo em que há tantos loucos robotizados
Que matam e vão pro cinema
Eu saio de cena mais não de minha sina
O destino pode estar rabiscado
Mais meu livre arbítrio mesmo que rasurado
Não está condenado em viver
Trancado num quarto com um alguém
Que não me faz bem
Que dorme despojado
Enquanto eu estou acordado
Na deformidade da escuridão
Pra me esconder não tenho que usar "insulfilm"
Não tenho mais ciúme
Estou com todos os vidros abertos
Nada me prende na estação
Sou vacuidade
Velocidade sem contra-mão...
Não adianta ser confete
Que voam pelo ar sem pouso certo
E depois desprezados serem reféns do lixo
Não tenho nada pra sonhar
Meu ar é de Deus
E minhas lágrimas
Assim como eu não tem onde repousar...
Apenas sigo o rio, o fio, as pegadas, o cio
As pedras roladas
Rolo sem lugar pra chegar
Onde estou é meu lugar....
Alugo meu espaço
Não meço meus passos
Queria chegar em algum coração
Que não precisasse escalar tanto
Pois que estou mais é descendo a ladeira
Como uma lágrima que está prestes a alcançar a boca
De alguém que me absolva
Ou me condene para sempre...