FRIO (cerrado)

Quem o contentar dirá destas noites de frio?

Corre no cerrado de galho a galho, arrepio

Dum vento seco e bravio. E eu, aqui tão só

Em queixas caladas, calafrios, é de dar dó

Recolhido na tristeza do invernado cerrado

Cheio de solidão, de silêncio e de pecado...

Que corrosiva saudade! Esquisita e estranha

Uma está lembrança forjada na entranha

Do inverno, caída de outrem, fluindo amargor

Onde, em sombrio sonho, eu vivendo a dor

Sem querer, na ingratidão, com indiferença

No vazio da retidão, da ilusão e da crença

Que acirrado frio, sem piedade, ofensivo

Que me faz reclusivo, neste cárcere cativo

Insano, em vão, duma melancolia lodaçal

Que braveja, me abraça e me faz tão mal...

Por que, pra um devaneador esta paragem

Que ouriça, e é tão deslocada de coragem?

Ah! quem pode me dizer pra que assim veio?

Se está tortura é passageira, assim, eu creio.

E a minha miséria aberta, escorre pelo olhar

Receio... e mais gelado fica em mim o pesar.

Uma prosa alheia, uma penitencia escondida

Se é só o frio, por que esta insânia homicida?...

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado

14 de julho de 2019, 00’17” - Cerrado goiano

Olavobilaquiando

Luciano Spagnol poeta do cerrado
Enviado por Luciano Spagnol poeta do cerrado em 14/07/2019
Reeditado em 30/10/2019
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