QUARTA FEIRA DE CINZAS

De cinzas a quarta feira se torna branca,

Dos coloridos, das cantigas esquecidas do passado,

Das falas tornadas brandas, no recanto de sala a fantasia...

Até mesmo a poesia sobre o acorde tardio a voz descansa,

Nem dos carnavais idos, sem tempo prá lembrança...

Queira ou não queira é carnaval findo,

Oficialmente ano novo começa para muitos,

Para outros há um bom tempo já iniciado...

Variadas emoções, beijos beijados, outros não consumados,

Momentos, desilusões, visões e certezas à medida que a terça gorda finda,

Mesmo ainda uma tênue tentativa em prolongá-la por toda uma vida.

Bem bom pra quem embalado em sonho momesco, em tempo off continua sendo,

Como num medieval afresco ama o dobro, beija o dobro, abraça muito o dobro e,

à medida que o tempo do final se aproxima, vive, multiplica-se...

A quarta feira é de cinzas mas o meu dia é de sol por que?

Porque não sei gostar pela metade, não sei gostar até terça de carnaval,

Não sei olhar sem querer você, bela princesa,

Não sei guardar seu sorriso em meu olhar refletido,

Não sei a grandeza deste mundo feito de ilusão...

Não sei se me atiro em um frevo louco,

Ou me contenho em um samba canção...

Não sei do seu momento,

qual pensamento domina seu ser, não sei...

Não sei se me jogar até onde vou parar...

Não sei se rever você por um momento,

Recém saída do meu perdido pensamento,

Vou aguentar a surpresa em rever como outrora

O seu sorriso, o seu semblante singular,

Equilibrar a razão e a emoção, não sei.

Como controlar o gostar e o sentir?

Saberei frear meu coração?

Não sei o passado reviver, como não sei esperar...

Para quem não peca durante o carnaval,

“quarta feira de cinzas” é dia de arrependimento,

Padecimento em não ter podido pecar

Ou fazer alguém pecar em nós...

Cinza da quarta feira, cinza mesmo foi o dia raiado,

Ainda bem que não está quente, está ideal para o meu existir...