CARNAVAL NA AVENIDA DO TEMPO

Diante dos meus olhos desfilaram gerações

Vi passar os blocos da quotidiana lida

Nos seus estandartes, nos seus enredos

Amor-alegria, Alegria - sofrimento,

Amor - desengano, desalegria...

Hoje diante dos meus olhos

Perdidos na avenida do tempo,

Desfilam recordações

O primeiro que passa, é o bloco da infância...

Pés descalços, calças furadas

A rua estreita e poeirenta

As brigas da gurizada.

A velha escolinha ao rés do chão plantada

A velha mestra, os primeiros clarões

do ensinamento, b – a = ba

A primeira cartilha e o primeiro castigo

O páteo de recreio, as bolinhas de gude,

O bodoque, o lápis e a borracha que nunca apagou

As lembranças da infância...

As lembranças do meu tempo de criança.

Aguço o olhar, é o bloco da adolescência que passa....

A ilusão vem à frente, segue-se as noites de insônia,

Os primeiros espasmos e o fogo devorando a carne,

Os primeiros fios de barba, num rosto sarapintado,

A metamorfose do corpo, o desabrochar do sexo,

O primeiro pecado, o primeiro amor

E a dor do desengano, a primeira marca numa alma

Que já fora inocente.

Outros blocos passaram ... vazios.

E o último já desponta ao longo da avenida.

Uma alma cansada e uma face marcada

Distinguem-se primeiro.

Uma bruma fria empana a visão

Os primeiros cabelos brancos de uma cabeça curvada.

O andar arrastado de um corpo encanecido,

Começam aparecer, seguidos de um grande vazio

Do supremo silêncio do nada, acabou

E na avenida do tempo... a vida passou.

Pethrus
Enviado por Pethrus em 22/02/2019
Código do texto: T6581656
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