CARNAVAL NA AVENIDA DO TEMPO
Diante dos meus olhos desfilaram gerações
Vi passar os blocos da quotidiana lida
Nos seus estandartes, nos seus enredos
Amor-alegria, Alegria - sofrimento,
Amor - desengano, desalegria...
Hoje diante dos meus olhos
Perdidos na avenida do tempo,
Desfilam recordações
O primeiro que passa, é o bloco da infância...
Pés descalços, calças furadas
A rua estreita e poeirenta
As brigas da gurizada.
A velha escolinha ao rés do chão plantada
A velha mestra, os primeiros clarões
do ensinamento, b – a = ba
A primeira cartilha e o primeiro castigo
O páteo de recreio, as bolinhas de gude,
O bodoque, o lápis e a borracha que nunca apagou
As lembranças da infância...
As lembranças do meu tempo de criança.
Aguço o olhar, é o bloco da adolescência que passa....
A ilusão vem à frente, segue-se as noites de insônia,
Os primeiros espasmos e o fogo devorando a carne,
Os primeiros fios de barba, num rosto sarapintado,
A metamorfose do corpo, o desabrochar do sexo,
O primeiro pecado, o primeiro amor
E a dor do desengano, a primeira marca numa alma
Que já fora inocente.
Outros blocos passaram ... vazios.
E o último já desponta ao longo da avenida.
Uma alma cansada e uma face marcada
Distinguem-se primeiro.
Uma bruma fria empana a visão
Os primeiros cabelos brancos de uma cabeça curvada.
O andar arrastado de um corpo encanecido,
Começam aparecer, seguidos de um grande vazio
Do supremo silêncio do nada, acabou
E na avenida do tempo... a vida passou.