MERENGUE
As vezes sinto que nada mais me resta
Tudo é o quê, temos tanto a ganhar e tanto outro a se perder
Uma milha distante, um instante, e o que mais presta?
Onde nos perdemos depois que nascemos nesta pequena fresta???
Ninguém ganha do tempo por isso rezo
De que vale a velocidade da luz?
Se a cruz que carrego é mais pesada que o chão que tropeço
As lágrimas são antissépticas
Desinfetam as feridas mais profundamente arraigadas
Dentro da nossa gente geneticamente céticas
A paixão é como areia movediça
Quanto mais você se mexe tanto o mais se afunda
É como ir a missa
Quem sabe assim rezando na fé se abunda
Tua rosa mucosa me vasodilata
Me planto em ti
Terra negra mulata...
Não leve a vida tão a sério
Além da vida e além da morte
Ainda nos resta o cemitério
Porque de tanto silencio???
Você me deixa confuso
Olho o caudaloso rio
Que indiferente a tudo segue seu curso...
O que nós somos?
Somos seres humanos que nos formamos
Somos moldes
Fôrmas ventrais
Prensas sexuais
Ramos de outros gomos
Quero tua vertente retilínea
Sim podes me dar aquilo que preciso
São correntes sanguíneas
Quero me verter serpente
Não temer teu guizo senciente
Quero a voz que me invade
Teu sussurro louco me arde
A maresia de tua boca em minha ventrecha auricular
Quero a autenticidade de teu gozo
O soprar morno de tua coxa roliça
Quero no teu corpo minha premissa te ofertar
Te amo
Te quero
Tenho pressa
Quero a promessa cumprida do beijo em tua boca
O éter de teu suor
O ontem que perdi
O amanhã que não volta
O hálito doce que me embebece
A gaivota que passeia por teus seios
A brisa morna que cultua tua sombra
Os escombros que ainda não encontrei
Quero tuas pupilas dilatadas
Teu vórtice inquieto
Tua luxúria desdobrada
Quero sim teu molde imerso
Para que se amolde no meu
Quero o contexto do anverso
O teu avesso no meu universo
Te rabiscar em segredo e segregação
Sinta a brisa da noite que a tudo dá folga
Rebusque também aquilo que perdi
Durma no meu peito, dilate sua narina, respire
Como a égua que resfolga
Quero fazer de teu corpo meu mapa
Traçar linhas, adentrar fronteiras, demarcar território
Estarei aqui pertinho do teu mundo
Pois tudo que me resta
É este silencio profundo
Qual o descanso de uma folgada sesta
Te espero amor sonhado
Mais se não puderes vir
Já és fato consumado
Já és vinho tomado
Nos resta agora apenas esperar
A espera é o encanto do amor
Olha o mar
Traz e tudo leva
Olha a Iemanjá
Que te trouxe de volta
Ouve a Iemanjá
Que ouve o seu povo batucar
Sente a Iemanjá
No teu corpo a se abrir
Como as velas engolfadas ao vento
Deixa esta linda cabocla
Que no azul do firmamento
Abrindo sua boca deixa a língua de fogo ao porvir
E na linha do horizonte
Estão céu e terra lábios a se unir...