Todestrieb

Eu vomito palavras.

Palavras que cobrem-me de podridão.

Palavras que ultrajam o desavisado.

Palavras que denunciam o pior de mim.

O médio convivente não vê.

Não vê o quanto sou vil.

Sou para todos um fantasma.

Sou para alguns uma farsa.

Mas nenhum de fato enxerga

Nem mesmo o mais próximo.

Nem mesmo o mais íntimo.

Quando entram em contato,

Logo escapam, pois todos se amam.

Eu não me amo.

Eu me esforço para matar-me a cada dia.

Como disse, é congênito.

Não há mais o que se fazer.

Não há mais o que mudar.

Não há jamais o que conquistar

A vida anda a oferecer-me.

Trato-a com desprezo.

Não há mais como ser.

A minha depressão não é cinza.

Ela é supersaturada.

A ironia colore o quotidiano.

A violência dá vida ao meu dia.

As pulsões são fortíssimas,

E pouco posso suportá-las.

Mergulho no mundano.

Submerso e putrefato.

Queria na verdade poder chorar.

Mas o máximo que faço é cobrir meus olhos,

Com mãos de nicotina,

Que ardem-nos em agonia.

Quem sabe um dia o pior chegue de uma vez.

Pois ruim mesmo é a iminência.

Ruim mesmo é a iminência.

Rafael Gonçalves
Enviado por Rafael Gonçalves em 08/02/2019
Reeditado em 09/09/2019
Código do texto: T6569749
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