Todestrieb
Eu vomito palavras.
Palavras que cobrem-me de podridão.
Palavras que ultrajam o desavisado.
Palavras que denunciam o pior de mim.
O médio convivente não vê.
Não vê o quanto sou vil.
Sou para todos um fantasma.
Sou para alguns uma farsa.
Mas nenhum de fato enxerga
Nem mesmo o mais próximo.
Nem mesmo o mais íntimo.
Quando entram em contato,
Logo escapam, pois todos se amam.
Eu não me amo.
Eu me esforço para matar-me a cada dia.
Como disse, é congênito.
Não há mais o que se fazer.
Não há mais o que mudar.
Não há jamais o que conquistar
A vida anda a oferecer-me.
Trato-a com desprezo.
Não há mais como ser.
A minha depressão não é cinza.
Ela é supersaturada.
A ironia colore o quotidiano.
A violência dá vida ao meu dia.
As pulsões são fortíssimas,
E pouco posso suportá-las.
Mergulho no mundano.
Submerso e putrefato.
Queria na verdade poder chorar.
Mas o máximo que faço é cobrir meus olhos,
Com mãos de nicotina,
Que ardem-nos em agonia.
Quem sabe um dia o pior chegue de uma vez.
Pois ruim mesmo é a iminência.
Ruim mesmo é a iminência.