Só um dia
O que fica desse dia que se fora
Sem se dar nem receber,
Na solidez desse tempo renitente,
Que se demora, que arrasta as horas
Em pálido dia sem memorias.
O que fica desse dia
É um longo piscar de olhos
Se de chuva,
Alguns pingos a espantar a solidão
Das janelas.
Se de sol,
Um deitar dos olhos
Sobre um colchão de folhas mortas.
O que guardamos desse passar sem se notar
É quase um nada!
Apenas um dia qualquer, que se fora
Assim, sem sonhos!
Um passar sem passado
Que se desfez devagar
Como nuvem sem sol,
Solitária, sem matizes.
Fora um simples dia, um tempo insipido
Sem marcas nem cicatrizes!
Que desintegrou-se na imensidão
Dos dias sem sabores.
Perdeu-se na engrenagem
Das horas sem registros,
Ainda que dos olhos tenha sido
Morrera no vazio dos sentidos.