Ode ao meu sertão

I

Oh, Deus do céu, me proteja,

Pois eu me sinto tão triste!

Pouca coisa boa existe

Que vá me trazer valor.

Oh, Deus do céu, por favor,

Não me deixe sofrer mais.

O dia a dia me traz

Mais e mais a grande dor!

II

A vida triste é cerveja

Quente, choca, sem sabor.

É inútil todo o labor

E é laborioso pensar.

A chuva não aparece,

A mata não verdejou;

O colibri não beijou

A flor a desabrochar.

III

O vento levanta o pó,

Canta triste o bem-te-vi;

Sen ter ninho a juriti

Já sumiu da minha terra.

A alegria não vingou,

A fome manda um recado:

"Venda logo todo o gado,

Que vai começar a guerra".

IV

Mas na terra sem valor

Repousa o grão da esperança.

Se despertar, traz pujança

E fartura sem igual.

Basta que as nuvens destilem

Água vital e balsâmica

Que a terra mesopotâmica

Faz brotar o milharal.

V

Arroz, farinha, legume,

Fruta, capim para o gado;

Tudo bem alimentado

Louvo a Deus, o chão sorri.

E no mesmo campo pobre

Onde há pouco havia dores,

Verdejam prados e flores,

Feliz canta o bem-te-vi.

***

(06/6/2011)

Jarrê
Enviado por Jarrê em 27/10/2018
Código do texto: T6487933
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