Ode ao meu sertão
I
Oh, Deus do céu, me proteja,
Pois eu me sinto tão triste!
Pouca coisa boa existe
Que vá me trazer valor.
Oh, Deus do céu, por favor,
Não me deixe sofrer mais.
O dia a dia me traz
Mais e mais a grande dor!
II
A vida triste é cerveja
Quente, choca, sem sabor.
É inútil todo o labor
E é laborioso pensar.
A chuva não aparece,
A mata não verdejou;
O colibri não beijou
A flor a desabrochar.
III
O vento levanta o pó,
Canta triste o bem-te-vi;
Sen ter ninho a juriti
Já sumiu da minha terra.
A alegria não vingou,
A fome manda um recado:
"Venda logo todo o gado,
Que vai começar a guerra".
IV
Mas na terra sem valor
Repousa o grão da esperança.
Se despertar, traz pujança
E fartura sem igual.
Basta que as nuvens destilem
Água vital e balsâmica
Que a terra mesopotâmica
Faz brotar o milharal.
V
Arroz, farinha, legume,
Fruta, capim para o gado;
Tudo bem alimentado
Louvo a Deus, o chão sorri.
E no mesmo campo pobre
Onde há pouco havia dores,
Verdejam prados e flores,
Feliz canta o bem-te-vi.
***
(06/6/2011)