Réquiem

Não quero mais esta ração diária de costumes
e mazelas que acompanha o meu poente.
Como me livrar deste prato de azedume
que recebi, ao final de minha vida, de presente?

As estrelas são as mesmas que há muito cintilavam...
As do mar, que me amavam, ficaram no meu ontem.
A vida foi passando e percebi que a cada dia
tudo se repetia: e eu já não era tão novato assim.

O tempo roía todo dia o meu corpo e o meu eu...
E mais: as intempéries do que fui, sou e serei...
Mas, ser humano, prepotente, até pensava ser rei.

A angustia de ser vivo - e viver num carrossel-
ocorreu ao descobrir que não tinha apreço à minha vida,
mas quem vivia era eu? Sim, eu pagava aluguel!