A CORUJA TRISTE
Avistei-te da janela óh coruja triste, parada em cima de uma chaminé.
De início não entedia o que queria só,
só sabia que existia e aquilo, no princípio, me bastava.
Estava ali debaixo da chuva, em cima da chaminé.
Então, de súbito teu pescoço girou duas ou três vezes, coruja estranha.
Estava lá parada, quase imperceptível, como uma estátua.
Daquelas antigas que sequer a vemos mais,
exaltadas, quanto mais.
Estátua daqueles tempos remotos como tu, óh coruja pertinaz.
Tudo agora é movimento, bicho coruja, ficaste pra traz.
Talvez fosse isso que passasse na sua cabeça, animal estátua.
Talvez não, talvez apenas naquele que te olhava, tão mordaz.
Pensava, pensava, óh coruja...
Em nossas vidas tão paradas.
Lembranças escassas
Como tu, ó animal estátua.
Tão presente em nossas vistas
Vidas tão embaçadas, mortas, lascivas.
De repente descobri missivas...
A coruja tem hábitos noturnos.
Eu quem era era o estulto.
A coruja só dormia.
Dorme, sim, corujinha,
aproveite descansando de seu turno noturno.
Triste, solitária e esquecida,
mas por mim tão admirada
Trabalhadora e com olhos brilhantes
Ás noites, enquanto durmo.