O SERTÃO PEDE SOCRRO
Olho pra baixo tristonho
E vejo um cenário medonho
Um deserto de cinza e pó;
Parecendo um filme de terror
Silhuetas fantasmagóricas sem vigor
Dançando de uma perna só:
São mulheres maltrapilhas e desditosas
Que venceram distâncias monstruosas
À procura de correntezas;
Retornam cansadas e sedentas
Trazendo águas barrentas
E cheias de impurezas.
Vejo nas camas desarrumadas
Corpos esqueléticos de barrigas inchadas
Gemendo, clamando, estendendo a mão:
São crianças cheias de vermes
Consumidas pelos germes
Chorando, pedindo pão.
Vejo guerras, lutas corporais
Levantando poeira nos quintais
Logo ao amanhecer:
São homens honestos e valentes
Plantando as últimas sementes
Sem saber se vão nascer.
Como é triste e melancólico
Ver o quadro diabólico
Do alto deste morro!
Tudo parece irreal
Enquanto chove no litoral
O sertão pede socorro.