ESPELHO DE SOMBRAS - PARTE I

Olhei para o espelho e não me enxerguei
Vi o tempo passado e o que não apaguei
Refletiu imagens da cartilha, do B-A-BA
Lembrei das aulas e das letras que juntei.

Imagens, retratos de minha existência.
Baixei a cabeça e busquei meu acalento,
Me vi de uniforme num banco escolar;
Ouvi as canções em meu pensamento.

"Venha ver minha granja que é formosa,
Venha ver minha granja que é formosa,
O gatinho faz assim: miau, miau,
O cachorrin ho faz assim: au, au, au, au
Olá, meu amigo, olá, meu amigo,
Olá, olá, olá..."

Oh! saudade da infância, mais querida;
Da juventude que se foi, de muitas vidas;
Da formatura, amigos que se abraçaram;
Recomeço, lágrimas, beijos, despedidas.

Tímidas marcas que riscaram minha tez.
Mapearam minha estrada e tudo que passei.
Rabiscos desenhados, um de cada vez...
Caminhos percorridos... jamais esquecerei!

Meu espelho continua no meamo lugar,
Refletinho as imagens e sonhos meus,
Me segue, não quebrou, não deu azar,
Espera decisões que entreguei a Deus.

Mas onde está Deus nesse momento,
Em que vago por entre espaços vis?
Restos de esperança, vívidos desencantos
Versos lentos que vou escrevendo infeliz

Procuro minha paz, meu oásis no deserto
Que se fez em meu coração, um desalento
Estou com sede de paixão, de amor liberto
Quero a luz que me tire a dor, o abatimento

Enfim, poetar sem dizer o que sente
É o mesmo que apagar a alma da gente
Que vezes ri, outras chora descontente
Busca desabafar a dor triste, aparente.

Volto ao espelho, vejo nele minha imagem
Digo a mim mesma: Essa mulher sou eu!
Cadê minha disposição, a guerra, a coragem?
Corri da escuridão que se fazia como breu.

Agora me resta apenas a esperança
Não aguento meu ser tão triste, infeliz
Coberto de marcas perdidas, esquecidas
Mas que estão presentes, raiz, cicatriz...