O sol e a lua

SOL E LUA

Ao entardecer o céu se torna róseo.

O sol não mais está visível

Mas ainda há luz sobre a terra.

É hora de meditar

Sobre este fulgor tardio.

Sobre o riso e o pranto

Que tanto valor encerra.

O ocaso cálido é um convite

A uma insônia ardente.

O corpo ainda sente

O calor do sol a esquentar.

Os músculos lânguidos,

Ansiosos esperam

Por este ser ausente.

O astro rei não se faz de rogado

E atende, apressado,

Ao apelo da amada

Que, envergonhada

Por sua nudez indecente,

Esconde-se atrás do monte.

Reina sol e aqueça teu reinado

Esperando o arrebol ansiado,

A sua entrega à lua mansa

Que, ao seu encontro, vem.

Ela está apressada, aflita

Para, no lusco fusco

Do ocaso e da aurora

Rolarem no céu como outrora,

Como amantes eternos, também.

Astro rei, a tua luz aquece o trinado

Do pássaro cantador, que desperta

A madrugada insone;

Clareia, o luar, vestindo

A negritude da noite.

O sol impetuoso, ardente,

Queima as cores, as flores

A arte exposta a seu brilho

E ao calor que, como onda

Expande, perpetua e frutifica

Cobrindo a terra seca

Com névoa úmida.

Espera a amada tímida

Que, durante o dia repousa

Noutro canto, noutro lugar.

Ao entardecer desperta

Lânguida e exangue.

Nas veias, acelera o sangue

Do coração a palpitar.

Doce e meiga, no ato, se entrega.

Breves encontros de amor,

A lua e o sol usufruem.

Triste sina, mero instante

Estão juntos, são amantes.

Um enfeita e aclara o mundo

Com seu brilho, seu fulgor.

A outra aquece as camas,

Encanta as vista,

Inspira os poetas

E chama o trovador.

Nota: Várias pessoas me disseram que "Corpo e alma" que chamei de crônica era poesia. Fiz o exercício de transformá-la nesta forma e acho que saiu outra composição com a mesma idéia.

Rio de Janeiro, 26 de julho de 2007

Gilda Porto
Enviado por Gilda Porto em 31/08/2007
Código do texto: T632922
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