Passarinho
Passarinho é coisa tão, mas tão delicada...
Canta e morre assim, de repente, do nada.
Pousa no galho, pia e faz graça,
E depois ele voa, e nunca mais passa.
Deixa no ar uma penugem leve
Que cai devagar, ao vento entregue;
Pousa nos pés de alguém que nem vê,
Essa pequena pluma, presente tão breve!
Passarinho é coisa tão, mas tão bonita...
Canta e encanta o amargor dessa vida.
Nasceu para voar e para ir embora,
Mas sempre há alguém que o põe na gaiola!
E ele canta, assim, só de tristeza
Na tarde que cai, inclina a cabeça...
E quem o escuta, ainda diz que é alegria
Pois não consegue escutar sua agonia!
Passarinho é coisa tão, mas tão abençoada...
Nasceu para ir, assim, na revoada,
Bando de seres alados, quais anjos,
Soltam seu canto no céu que cobre a estrada!
Passam voando por sobre a gaiola
Onde, desolado, um deles só chora...
-Deus queira que um dia, em hora incerta,
Alguém não perceba a portinhola aberta!
Porque passarinho tem por codinome
A palavra mais linda por sobre o seu nome:
E ela é Liberdade, essa coisa que a inveja
De quem jamais voa, sem dó, apedreja.