MENINA DA PORTEIRA
Pertinho de nossas casas
Naquela estrada de chão
Tinha lá uma porteira.
Passava o carro de boi,
Passava tropa e boiada,
Raramente uma condução,
Naquela estrada boiadeira.
Lá eu ficava sentado
Bem encima do mourão
Pra esperar quem passava,
Todo dia, o dia inteiro.
Só indo em casa almoçar,
Ficava até de tardinha,
Naquela simples função,
De janeiro a janeiro.
Mas tinha o meu segredo
Que a ninguém eu contava,
Aquele lindo segredo
A ninguém nunca contei.
Foi uma história tão bela,
Vivida por eu e ela,
Que nunca me esquecerei.
Por toda aquela redondeza
Não tinha outra mais bonita
Com seu vestido de chita
Era a mais bela que tinha.
De pele morena clara,
Olhos e cabelos pretos,
De uma beleza rara,
Filha da minha vizinha.
Aquele mourão da porteira,
O nosso ponto de encontro
Eu a ficava esperando
E quando de longe eu a via,
Do outro lado do mourão,
Procurando enganá-la,
Numa doce brincadeira,
Dela eu me escondia.
Outras vezes era ela
Minha doce namorada
Que lá chegava primeiro
E ficava me esperando
E também se escondia
Atrás daquele mourão
E quando me encontrava
Sorrindo ia me abraçando.
Um dia tomei coragem,
Com um pedaço de giz
Sem dizer o nome dela
Um versinho escrevi:
Minha doce namorada,
Desde que a conheci.
Meu coração bateu forte,
Apaixonei-me por ti.
Quem sabe ainda exista
Aquela antiga porteira,
Mas do seu mourão esquerdo,
O verso a chuva lavou,
Daqueles tempos tão belos,
Daquele amor inocente,
Na minha querida infância,
Só a lembrança ficou.