MENINA DA PORTEIRA

Pertinho de nossas casas

Naquela estrada de chão

Tinha lá uma porteira.

Passava o carro de boi,

Passava tropa e boiada,

Raramente uma condução,

Naquela estrada boiadeira.

Lá eu ficava sentado

Bem encima do mourão

Pra esperar quem passava,

Todo dia, o dia inteiro.

Só indo em casa almoçar,

Ficava até de tardinha,

Naquela simples função,

De janeiro a janeiro.

Mas tinha o meu segredo

Que a ninguém eu contava,

Aquele lindo segredo

A ninguém nunca contei.

Foi uma história tão bela,

Vivida por eu e ela,

Que nunca me esquecerei.

Por toda aquela redondeza

Não tinha outra mais bonita

Com seu vestido de chita

Era a mais bela que tinha.

De pele morena clara,

Olhos e cabelos pretos,

De uma beleza rara,

Filha da minha vizinha.

Aquele mourão da porteira,

O nosso ponto de encontro

Eu a ficava esperando

E quando de longe eu a via,

Do outro lado do mourão,

Procurando enganá-la,

Numa doce brincadeira,

Dela eu me escondia.

Outras vezes era ela

Minha doce namorada

Que lá chegava primeiro

E ficava me esperando

E também se escondia

Atrás daquele mourão

E quando me encontrava

Sorrindo ia me abraçando.

Um dia tomei coragem,

Com um pedaço de giz

Sem dizer o nome dela

Um versinho escrevi:

Minha doce namorada,

Desde que a conheci.

Meu coração bateu forte,

Apaixonei-me por ti.

Quem sabe ainda exista

Aquela antiga porteira,

Mas do seu mourão esquerdo,

O verso a chuva lavou,

Daqueles tempos tão belos,

Daquele amor inocente,

Na minha querida infância,

Só a lembrança ficou.

CEZARIO PARDO
Enviado por CEZARIO PARDO em 19/03/2018
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