Mel da noite
Quando a noite abre as cortinas
a vida, em lumes, se cumpre faceira
e as incandescências divinas
materializam suas vivências campeiras
Doce clarão que espelha
as devoções das aguadas
brandura líquida e fecunda
tilintando com louvor sua flor prateada
O vento dissipa ternuras sem arreios
campo afora, é quilha, é lastro
navegando em florescidos relicários
que remendam as distâncias dos astros
Horas mortas que vigiam as coxilhas,
arqueiam devotas as suas rezas
e semeiam um perfume que brilha
suprindo, em favos, as carências da terra
No olhar semeado de eterno facho
a poesia em voz melodiosa e delicada
acaricia o choro saudoso dos guachos
e reverencia a paz dos campos e suas moradas
É seu ofício andejar em fuso de amor,
evolar a suprema altura do céu
e beijar a relva, a esperança e a flor
e estender sobre a terra seu prateado véu
Uma luz em emoção remansada
sem beirais, raízes ou fronteiras
é pólen abençoando madrugadas
mel da noite - lua abelha