COISAS DO SERTÃO
A casa de barro no cume da serra
É um quadro caboclo pintado por Deus.
Das sementes lançadas no seio da terra
Restaram migalhas para os pequenos plebeus.
Na sombra esguia do mandacaru
As corais venenosas repousam tranqüilas.
Bizarros casais no surucucu
Observam pasmados as formigas em filas.
Bacuraus solitários, jogados ao léu,
Errantes perdidos, sem par, sem calor;
O zimbro suave descendo do céu
Beijando as folhinhas com gotas de amor.
Saudade tamanha do carro de boi
Gemendo na estrada do meu sentimento.
A carreta veloz tanto veio e foi
Que apagou sua imagem do meu pensamento.
Na longa estiagem do pungente verão
A água potável é mera vaidade.
E o cálido rei no velho sertão
Rasga o chão sem dó, sem piedade.