O VELHO MOINHO
O VELHO MOINHO
Velho moinho da devesa
Ai quanta tristeza,
Ver tua ruína.
E também uma saudade candente
Ao ver morrer também a devesa,
Que contigo compunha a tela
Mais bela
E do mais profundo telúrico.
Sempre haverei de recordar
As tuas paredes aninhas
Da farinha todas branquinhas,
Puras como o luar.
.
Do espadanar da água
Na roda, que te fazia girar;
E a cantiga mais antiga
Feita de uma nota só,
Ao bater da tramela na mó:
Trau, trau, trau
Trau, trau trau,
Noite e dia sem parar.
Velho e feiticeiro moinho
Só tu sabias acalentar
Meus sonhos de menino,
E me fizeste acreditar
Que o paraíso era aí no teu lugar.
Mas aquele menino fez se homem
E as saudades que o consomem
Vez por outra batem de mansinho,
E doem um pouquinho...
Não importa quem propaga
Que só se sente saudades das coisas boas;
As tristes o tempo apaga?...
Mas a saudade não se deixa apagar,
Apenas fica a nos espreitar
Num escaninho qualquer;
E quando menos nos damos conta,
Ela vem nos visitar.