FONTE CATIVA
«À Alma da Beira»
Água da fonte cativa
Em tanque de água pura
Dureza granítica viva
De uma tão rara frescura.
Curso de água corrente
Vindo da serra distante
És o tempero da gente
Na sede de cada instante.
Neste Verão clamoroso
Todos anseiam por bem
Teu paladar tão gostoso
Que a alma viva mantém.
Por ti reclama a verdura,
Sementes qu´ hão-de nascer,
Beijas com toda a ternura
Os frutos do amadurecer.
Água da fonte cativa
Que vens de longínqua mina
Não andes por aí à deriva
Pois perdes a nossa estima.
É tão bela a liberdade
Que a mãe-natureza te deu,
Não percas a qualidade
Que tem a origem no céu.
E s´ alguém tiver a ousadia
De te mudar o cruzeiro
Grita em revolta sadia
Que não queres o cativeiro.
E s´ alguém por estultice
Desafiar a tua sanha
Não ligues à pirosice
E volta pra tua montanha.
Há muitas fontes n´ aldeia
E por aí, de rua em rua,
Mas ninguém tem com´ ideia
Qu´ há melhor água que a tua.
Discreta é a tua morada,
Bosque de fetos teu ninho,
Chegas em menos-de-nada
A este palco limpinho…
Mil vezes eu te abracei
Fazendo de ti a banheira
E até contigo sonhei
Ao subir, suando, a ladeira.
Corre sempre, água clara,
Tu és saudade e charneira
E, em riqueza límpida e rara,
És a eterna alma da Beira.
Água da fonte cativa,
Melodia de belo canto,
Volta a ser livre e activa
Para nosso prazer e encanto!
Frassino Machado
In CANÇÃO DA TERRA E DO MEU PAÍS