NEVE NO SUL do BRASIL

Neve mais branca, tão grande, distendida pelo campo afora,

À minha porta ela fica, onde por os pés nesta hora?

Vejo através da janela, fria como sói, vejo um chapéu de chuva,

Que no horizonte flutua, pose crua, a quem enfrenta a nevasca que cai...

Quando menos espero, mais ela se avoluma,

vejo fantasmagórica sombra quando me detenho,

não me contenho, pelo corpo me percorre um azedo frio,

assombrações me consomem de noite na estrada.

Um cão tardio ou vadio, nem bem sei,

Bem próximo de mim passa, portando neve nas costas,

Vai à caça ou onde a leva este faminto cão?

Odores vindos de longe, de lenha imagino, chama crepitante,

Em algum abrigo ao relento, tendo o céu como teto,

E o vento que a chama atiça...

Em outro canto da cidade fria,

A neve cai. Uma mulher nua no quarto ao mau tempo desafia,

Olhos pousados em ponto fixo, ainda jovem, quase menina,

Cabelos soltos, um arfante respirar, escuta a tempestade lá fora, enquanto espera a hora chegar

Ao amar um amor verdadeiro, por inteiro, esta menina amorosa,

Primorosa na arte de amar, nem se preocupa se o amor for à luz do sol quente,

Insistente menina, nem teme granizo ou neve que a domina...

Quando a noite chegar cedo e a neve as ruas cobrir,

Sem nenhuma preocupação, condição única para esta bela amante,

É ficar o dia inteiro na cama pensando em dormir com o amor perfeito.

Lua na neve, a minha, a tua, a nossa lua lá no alto postada,

Prateia matas e serras, aqui a vida muito em breve será jogada.

Enquanto tudo isso acontece, enquanto de frio o mundo padece,

Eu parto com o ar, célere o calor vou buscar, com ele hei de ficar,

A minha neve branca dos ombros sacudo ao sol que foge,

Desfaço minha carne em pardacenta espuma,

Entrego-me à terra para crescer entre as ervas que amo,

Se queres ver-me novamente, não precisas ir longe, sob teus pés estou.

Jamais saberás quem sou ou meu real significado,

Apesar de que sempre sou e boa saúde serei para ti e para todos codificado,

Filtrarei em suave enigma e comporei teu sangue

E se não conseguires descobrir-me, não desanimes:

O norte e o sul, o leste e oeste em algum destes pontos estarei,

Sempre à tua espera meu nobre viajante permanecerei!

Depois desta longa caminhada, desta cruel provação,

Através da neve atravessar, da tempestade e da chuva enfrentar,

Saberás que ao sol alcançarás e tudo ficará bem,

Afinal, a neve derretendo está e a aldeia cheia de crianças exulta,

Esperanças de um final feliz!

Neve congelada , bonecos, são capazes de fazer quase qualquer um sorrir.

Carlos Lira

clira
Enviado por clira em 19/07/2017
Reeditado em 20/07/2017
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