Matas-me

Tu matas-e e eu te agradeço,

Tu degeneras-me e eu te perpetuo.

Obrigado pelo alivio que me causas

Confrontando-me tão exauridamente

Com a morte,

Obrigado por tornar tão óbvio

O fim de todas as minhas dores,

As que tu provocas e as outras:

Da casa

Da rua

Dos amores

Das desgraças

De mim

Do que trago aqui dentro

Do que deixei por ai

Do que plantei ou colhi

Dos corações que ceifei, e os perdi,

Das rosas que vi e chorei

Dos sofridos e desvalidos

Dos violentados e mortos

Cansado dos falsos ressuscitados

Dos mortos por falta de pão

Quando os tive e não comi

Dos rios que poluí

Das manchas que provoquei

E as que trago dentro de mim,

Amo-te quando matas-me,

Pois agradeço o alívio que me causas,

Estou cansado da lida dessa vida!

PauloAndrade
Enviado por PauloAndrade em 21/06/2017
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