Matas-me
Tu matas-e e eu te agradeço,
Tu degeneras-me e eu te perpetuo.
Obrigado pelo alivio que me causas
Confrontando-me tão exauridamente
Com a morte,
Obrigado por tornar tão óbvio
O fim de todas as minhas dores,
As que tu provocas e as outras:
Da casa
Da rua
Dos amores
Das desgraças
De mim
Do que trago aqui dentro
Do que deixei por ai
Do que plantei ou colhi
Dos corações que ceifei, e os perdi,
Das rosas que vi e chorei
Dos sofridos e desvalidos
Dos violentados e mortos
Cansado dos falsos ressuscitados
Dos mortos por falta de pão
Quando os tive e não comi
Dos rios que poluí
Das manchas que provoquei
E as que trago dentro de mim,
Amo-te quando matas-me,
Pois agradeço o alívio que me causas,
Estou cansado da lida dessa vida!