Metro quadrado de sertão
Metro quadrado
Minha viola cansada
Morre sossegada no chão
Aperriada, minha forte enxada
É dominada por minha mão
Sinto que sou o próprio chão rachado
Um metro quadrado de sertão.
Fico a profetizar se a chuva tarda
Ou se só chove na próxima estação
No barraco só tenho pouco d’água
Inda ontem tinha pão.
Só sei do futuro até de madrugada
Depois já não sei mais não
Se me embebedo de cachaça
Ou se fujo na boleia do caminhão
Se vou pra cidade fazer fumaça
Ou procurar água no Ribeirão
Se busco por meus onze filhos
Ou se embrenho na solidão
Tento seguir adiante no caminho
Mas vem boiada na contramão
Me sinto galho retorcido feito cobra
Sou todo pau pra pouca obra
Minha alma secou junto com o poço
Por dentro e por fora, sou só pele e osso
Rezo a Deus por salvação
Sou um sólido solitário, real e imaginário
Metro quadrado de sertão.