O fim de noite-sem-fim
Nunca vi uma noite tão escura.
De dentro dela vem um frio triste e doloroso;
vem soprando num vento calmo e fatal.
O veneno amargo que eu bebo;
O veneno que é sólido como a verdade!
Vida; vias de fato!
Sem sentido nessa noite fria.
Vida fria, vazia.
É como morte em vida.
Minha alma apodrecendo em seu decadente receptáculo.
É uma paralisia,
Essa vida!
Paralisia de mente
morte de coração.
Veja, pois, sopra la fora o vento triste
Vento frio da negra solidão.
E foi-se para sempre
O que nem sempre fora teu…
Se foi, quem te disse?
A ti jamais pertenceu.
Nem é triste, de fato
Quando se vai tão importante aparato…
Não era amigo, ou amante,
Nem parte do teu corpo.
Sabes que não doeu quando se foi
Não dói quando se vai.
Ele era apenas seu…
Eu sei!
É como o fruto que da árvore cai.
Ir é parte da vida
(Negra, triste, solitária e fria)
Nada fica.
E o que fica nos trai.
Pior que sobrevier à própria utilidade
É viver pra causar a própria destruição.
Ai de mim, pobre coitado
De conhecer tamanha danação.
E não choro porque dói.
Nem do alívio, a surpresa
Me corrói.
O choro não é de alegria tão pouco,
É uma fraqueza que me dá,
É o surto de um demente louco!
Conhecendo, em primeira mão
O fundo do buraco.
Aquele cavado com insultos
E gritos,
A tumba dos meus pensamentos,
O inferno do meu coração!
Bom, então
Que nenhuma noite dura mais que uma noite,
E o dia vem,
E o anterior vira lembrança.
Chorar pelo que não pode mudar cansa.
Então que seja!
Chega de todo esse rancor
Chega de noite e chega de dor!
Faça para si o que precisar,
Seja lá o que for
E faça feliz,
Faça com amor!