IMERSÃO

O gato caminha, feliz, passo a passo,

a folha outonal dança o balé da memória,

ri o rio à margem que o espia,

sem energia elétrica, o poste pensa...

A caneta esferográfica fica estática sobre o virginal papel,

o poema, que viria às três da tarde,

atrasa por causa do trem do pensamento,

lavo o sovaco, fecho os olhos,

a água sem mãos

toca minha aparência...

A música do clarinete lentamente descreve paisagens pastoris,

o gelo, no freezer, se abraça porque sabe

que o frio é o que segura

as pessoas abraçadas...

Minha mão procura o verso,

imerso,

no vazio cibernético...