Fome de sorrir

Por Jorge Ribeiro

Jan\2017

Por que essa mania tormentosa de dar satisfação?

Muitas vezes me engano achando que sou autônomo

Aí a dependência aparece como um carma que mumifica

Estou embasbacado com essa impotência meta-empírica

Vou anarquizar essas regras e superar esses obsoletos valores

Talvez assim eu possa realizar minha sede de querer

E então superar essa fome depressiva de sorrir!

Dizem que somos sujeitos e não passamos de objetos de equações desconhecidas

Afirmam que somos capazes de tantas coisas, mas tudo não passa de mera ilusão

Tem um autoengano que muitas vezes nos bloqueia e fecha as reais janelas

A vaidade é um parasita que corrói e corrompe sem alardes e nela acreditamos

Por que essa desenfreada busca de aprovação e de submissão aos ditames?

Para que tanta obstinação e correria se a vida é nada mais que um sopro?

Exigem sempre, e cá estamos convivendo com a fome depressiva de sorrir!

Perplexidade? Angústia? Amargura? Desilusão? Revolta? Isso é o que?

Inconformidade com a natureza humana e seus limites?

Protesto contra a superficial felicidade e a banalidade que a rodeia?

Complexo de divindade ou medo da nulificação da vida?

Exasperação diante da perda de sentido da existência?

Abertura verso o infinito ou sinal de autotranscedência?

Cidadão de dois mundos, o nosso destino é caminhar com essa fome de sorrir!