Caminhos da poesia
Caminhos da poesia
O poeta procura nos cascalhos da existência
a matéria-prima para a construção dos seus versos.
Mãos-artesãs arquitetam os sentidos
mesmo que depois sombras venham ameaça-las
ou a indiferença lhe esmagar a essência.
O poeta ergue muros de arrimo não para
se proteger, mas para abrigar os sonhos
que ainda insistem em sobreviver nas obscuras
manhãs e na sequidão dos desertos noturnos.
O poeta sangra ao ver águas represadas
e as que descem de faces desfiguradas,
enquanto alimenta-se da própria dor,
para que outros superem a angustia da solidão.
Na tessitura das palavras o encontro das ideias
jogadas ao vento para que possam alcançar o infinito
ou alguém que as colham na próxima esquina
e replante-as para que brotem ainda mais verdejantes.
O poeta não se vangloria porque sabe que os versos
não são seus. Recluso, fica a observar até onde eles foram.