ROSTOS DA VIDA
Sobre a face gélida da rua desce o frio
e o desespero,
ao mesmo tempo em que o vento
em assovio... Segue arrancando,
lagrimas dos rostos petrificados.
Crianças...
Nem uma criança, nas calçadas!
Brincadeiras de balões...
Sorrisos, nada!
Os pássaros...
Todos encolhidos em cima dos fios...
sem cantos, sem pio, sem algazarras!
Sem chilrear, farfalhar nem voar!
Todos mudos.
E os mudos sobre os bancos da praça...
Não arriscam o seu dialeto,
sob, pena de congelar os sinais.
Aqui ali pode se notar um cão...
Grunhindo, encolhido,
um ou outro peregrino ao lado d’ele,
soprando fumaça no ar...
Um dia amargo...
Mas muito ainda por vir, e a esperar.
A noite se aproxima...
Lâmpadas desnudas sobre o frio
parecem estar indispostas diante da
serração.
Os peregrinos da cidade...
Nesse ínterim, aqui ali, juntam papelão
para um possível dormir, ou quem sabe
um sonhar acordados, enquanto são...
Observados por olhares sinistros, por detrás
dos muros refletivos.
Enfim desce à noite e a escuridão assolando
o medo, despertando o tremor da carne,
laminada pelo gelo.
A esperança nessa hora se retira rufando
as suas asas além da caixa de pulsação,
Sentimentos ah sentimentos!
Tantos! Tantos! Nem um consegue elevar-se
até os céus nesse momento, nesse momento
os únicos sentimentos a se firmar ali,
são de lagrimas e essas, salobras...
Parecem se congelar no rosto da vida.
Antonio Montes