Memória
Olha a pitomba!
Mascate! Mascate!
As vozes se unem e trazem memória.
Passos na rua do Recife antigo
Caminham lentos na direção do subúrbio.
Lá, as vozes se juntam com sorrisos de criança...
A correrem, pulando barra – bandeira e garrafão.
Saudade sim, mas saudade terna...
Ternurinha de criança
Impulsionando o ser vivido e livre
Olha o “sorvê”!
Grita seu “Biu” do caju, da mangaba e pitanga.
Sabores da infância
Que molham a boca com gosto de desejo.
E o japonês?
De coco, goiaba e amendoim.
Doce sabor de saída da escola
Parado no canto
À espera da meninada.
Corre, corre Mariazinha!
Que o bonde já vem cheio
Para amossegá-lo até a vila
Pois o pai já veio.
À tardinha, quando o sol caía...
A última aula não se assistia.
Ia-se a cinema Moderno
Pegar um filme da sessão do dia.
E seu Luiz, o mascate se recolhia.
Amanhã de manhã voltaria,
Para vender bicos, agulhas e linhas.
A mãe chamava, oh! Mariazinha!
Chama o Luiz, eu quero passamanaria,
Para botar no vestido da festa de Domingo!
E Maria nem sabia,
Que aqueles momentos se eternizariam
Em sua memória de mulher vivida.
O mascate que vinha e ia
O sorvete gelava e adocicava o dia
O japonês de coco, o mais gostoso!
E a pitomba inchada travara a garganta,
Que depois dos anos
Recobrava o grito
De estar calejada da vida e do medo
Para sorrir as lembranças que fizeram a menina
Do tempo que se foi e que voltaria
Na face adulta da saudosa memória
E o desejo de novo reacenderia
Trazendo surpresas no caminho de pedra,
Para aquela que se foi
E já não mais era!