ENVELHECIA

Quando pequeno...

Desenhava, desenhava

com o dedo sobre o ar

ou com a vontade, curta e nua...

Em dia de sol,

em noite de lua.

Na areia e na poeira, rabiscava:

Rabiscava a minha casa...

Rabiscava a minha rua.

Ainda menino...

Com papel sem pauta, carvão sem cor

eu rabiscava os meus sentimentos

e envelhecia o meu amor.

Todo dia, rabiscos eu fazia:

Menino, fiquei moço

crescia, crescia... E não observava

que a cada dia eu envelhecia,

envelhecia como fazia com os meus desenhos

envelhecia para esboçar cor

e inocente não sabia...

Que envelhecia para galgar a dor.

Mas o tempo me levava

e na medida em que isso acontecia

os rabiscos apareciam como rugas

e os pontos, como verrugas

espalhados pelos meus rostos

expressando assim a minha vida.

Não foi muito, deixei de ser jovem

as brincadeiras os desenhos, envelheceram

e agora adulto, era matuto

Estava em estado bruto

em traços surreal

meio caduco.

A cada noite e a cada dia

a cada sol e a cada lua

a cada lagrimas e a cada sorriso

a cada juízo... Eu envelhecia.

Fiquei velho

fiquei pai:

Fiquei avô...

e de nada sabia...

Será que vou?

Para onde vou?

Antonio Montes

Amontesferr
Enviado por Amontesferr em 08/11/2016
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