ENVELHECIA
Quando pequeno...
Desenhava, desenhava
com o dedo sobre o ar
ou com a vontade, curta e nua...
Em dia de sol,
em noite de lua.
Na areia e na poeira, rabiscava:
Rabiscava a minha casa...
Rabiscava a minha rua.
Ainda menino...
Com papel sem pauta, carvão sem cor
eu rabiscava os meus sentimentos
e envelhecia o meu amor.
Todo dia, rabiscos eu fazia:
Menino, fiquei moço
crescia, crescia... E não observava
que a cada dia eu envelhecia,
envelhecia como fazia com os meus desenhos
envelhecia para esboçar cor
e inocente não sabia...
Que envelhecia para galgar a dor.
Mas o tempo me levava
e na medida em que isso acontecia
os rabiscos apareciam como rugas
e os pontos, como verrugas
espalhados pelos meus rostos
expressando assim a minha vida.
Não foi muito, deixei de ser jovem
as brincadeiras os desenhos, envelheceram
e agora adulto, era matuto
Estava em estado bruto
em traços surreal
meio caduco.
A cada noite e a cada dia
a cada sol e a cada lua
a cada lagrimas e a cada sorriso
a cada juízo... Eu envelhecia.
Fiquei velho
fiquei pai:
Fiquei avô...
e de nada sabia...
Será que vou?
Para onde vou?
Antonio Montes