O CASTANHEIRO MILAGROSO

“A estória de uma lenda”

Junto ao tortuoso e áspero caminho

Erguia-se um castanheiro centenar,

Ali passou um dia o bom Martinho

Tencionando da chuva s´ abrigar.

Martinho era um esbelto cavaleiro

Pertencente às romanas legiões

E tendo cavalgado o dia inteiro

Cansado quis parar as emoções.

Eis quando ouve uma voz do interior

Daquele velho tronco carcomido

E, ficando transado de temor,

Puxou de sua espada destemido.

Viu assumir do largo buracão

Um rosto de um velhote meio louco

Que, tirando pra fora a trémula mão,

Falou ao cavaleiro num tom rouco:

- Ó poderoso, nobre e bom soldado,

Que aqui me vedes nesta moradia

Não façais mal a este desgraçado

Que passa a triste vida em agonia!

- Ai, ó homem de Deus que estou a ver

Em tal deserto longe de algum lar,

Como é possível aqui sobreviver

Sem nenhum alimento pra tomar?

- Ó meu nobre senhor, olhai à volta

E vede estes ouriços a sorrir,

Há destes frutos e há muita bolota

Que em cada dia está sempre a cair…

- Eu sei que boas são estas castanhas

E a bolota com bom aspecto está

Mas deverás passar mínguas tamanhas

Com esta chuva e o frio da manhã?

- Sabei, nobre senhor, daqui não saio

Pois mais vale só que mal acompanhado

E, além disso, também cá mora um gaio

Que comigo tem tudo partilhado…

- Tens frio… Toma lá deste meu manto

Metade para ti que eu não preciso…

E a chuva estancou como por encanto

E um claro sol abriu-se de improviso.

E aquele pobre velho até chorou,

Num terno fim de tarde inesquecível,

E o bom Martinho a viagem continuou

No fim daquela acção irrepreensível.

Algum tempo depois o velho morreu

Mas o castanheiro até hoje lá ficou…

O povo daquele velho não esqueceu:

Ali fez campa, e ermida edificou.

E o castanheiro dura e nunca morre,

Continuando a dar fruto, mais e mais,

E em cada ano o povo ali ocorre

Com festas e magustos tradicionais.

Toda a gente se alegra com carinho,

Toda a gente se farta com castanhas,

E toda a gente reza a S. Martinho

Pra que acabem as doenças e as manhas.

«Ó nosso S. Martinho, protege o povo,

Salva-nos das procelas e dos abismos

Protege adegas, e acresce o vinho novo

E despe-nos dos tristes egoísmos!»

Frassino Machado

In CANÇÃO DA TERRA E DO MEU PAÍS

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 07/11/2016
Reeditado em 07/11/2016
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