A FESTA DA NATUREZA
«Lenda das Maias»
Mês de Abril e mês de Maio
Sopra leve a fresca brisa
Em apoteose primaveril
Voa alegre e canta o gaio
Uma melodia indecisa
De natureza juvenil …
Ó minhas flores silvestres
Nas encostas e planaltos
Maias brancas e amarelas
Teus encantos, tuas vestes
Em borboletas sobressaltos
Escondendo o corpo delas.
Este canto e estas lendas
Embelezam toda a aldeia
De abraços multicolores
São as páscoas e as prendas
Em mesa farta até à ceia
Com ladainhas de flores.
Quando abertas são enfeites
Quando secas fertilizantes
E por vezes são mezinhas
Para xaropes e deleites
Mel e chás estimulantes
Maias, giestas são rainhas.
Nas capelas ou ermidas,
Em andores de procissão,
São regalo de forasteiros
E com fé de mãos erguidas
Embalam com devoção
A alma crente dos romeiros.
Há giestas até nas portas,
Maus olhares e agoiros
Com feitiços e bruxedos,
Pelos jardins e pelas hortas
Quais grinaldas e tesoiros
Dão sumiço aos loucos medos.
Belas maias, verdes giestas,
Aconchego das esteiras,
Minha entrada, minha espera,
Venham lá humanas festas
Com ansiosas sementeiras
Em maré de primavera.
Reza a nobre tradição
De romarias populares
Toda a gente engalanada
Faz da rua um bastião
Com suas danças e cantares
Até chegar a madrugada.
A lenda não esquece a narrar
Que Nossa Senhora, indo a pé
Na sua fuga pro Egipto,
Com as giestas a dar-a-dar
Escondeu Jesus de Nazaré
Que até Herodes ficou frito.
E as moças de Alexandria
Com um trato muito fino,
Teciam um manto garrido
Numa alegre romaria,
Para ofertar ao Menino
Um sorriso enternecido.
Desde tempos imemoriais
Ninguém nega tal certeza
Ao ver a flora em harmonia,
Exulta a terra nos giestais
Há festa da Natureza
E há festa da Poesia!
Frassino Machado
In CANÇÃO DA TERRA E DO MEU PAÍS