É SOU RIO
Sou rio, todo molhado já fui cheio lotado
Hoje ando secando cansado muitos de mim
Já acabado. Quantos e quantos seres já
sorriram ao me verem! Sou rio...
Sou rio, já matei tua sede, banhei você!
Articulei chuvas e toda vida do verde
Eu vou, sempre vou... Com estio
Com chuva ou com sol pelas escarpas
Em qualquer endereço... Eu tropico
eu desço, desço levo as areias das chuvas
Escorro, pelos arrebóis ribeirão, por lajes
e pedras, caverna buracão, despenco
pelas cachoeiras vou escorrendo pelo
chão. Eu sou rio... A muito com felicidade
hoje com tristeza, há muito corri pela
natureza, hoje pelas cidades. Sorri hoje
eu choro... Choro porque vou me acabar.
No deserto vou seguindo entre margens...
Sobre a visão de olhos cansados com sede...
Sou miragem. No leito molhado eu corro
Com violência desço o morro e na planície...
Sou lento, manso no vale, rápido e bravo
Ao descer o desfiladeiro. Eu sou rio...
Vivo a serpentear com as minhas águas...
Águas lentas velozes, disparadas entre
as pedras em carreiras e solavanco
aconchego, desaconchego e trancos.
Nas pirambeiras eu desembesto e sigo
tombando nas cachoeiras. Eu sou rio...
água que todo mundo no mundo bebe
Tenho seres, tenho peixes para matar
a sua fome, tenho liquido para matar a sua
sede. Sou rio... Enchem-me de areia me cercam
de: Pedras, concretos me atiçam... Tarrafas,
redes,das minhas margens, decepam o verde.
Hoje, hoje eu sou admirado pelos quadros
e fotografias, mas confesso estou me acabando
a cada dia.
Antonio Montes