AS VINDIMAS DA MINHA TERRA

- Torna, torna, torna, torna!

Alguém grita lá do alto

- Aí vai cesta para a dorna!

E as moças em sobressalto.

- Torna, torna, torna, torna,

Cá vai a cesta carregada!

- Torna, torna, torna, torna,

Quero-a aqui já esvaziada!

Torna, torna, dizia o Quim,

Pra eu ir correr também

Vinha a cesta para mim

E já eram mais de cem …

As vindimas, por instinto,

Quer de graça ou mesmo à jeira,

Vinho verde, branco ou tinto,

Todo o ano uma canseira.

- Torna, torna, sor António

Faça a cesta deslizar,

Quem me dera ser campónio

Pro poder desafiar!

- Trinta e dois degraus acima

Vejo ali mais outro cacho

Espreita lá, ó bela prima,

Já que estás aí em baixo!

- Torna, aqui para a latada

Venha lá mais outro cesto,

E lá diante baixa escada

Pra colher aquele resto!

Era ver as moças novas,

Sempre alegres e a cantar

Vira, vira e outras modas

E às vezes a dançar.

Já lá vem carro de bois,

Que se ouve a chiadeira,

Dornas cheias e ao depois

Há pisada a noite inteira.

Era assim o dia todo,

E com muito ou pouco grau

Saía vinho sempre a rodo

Com arroz de bacalhau.

- Ó Armindo traz lá o fole,

Ó André, e a concertina?

Ninguém tenha o corpo mole

Nem que seja ao pé da esquina!

E começa a desgarrada

Pernas limpas à partida,

Até à alta madrugada

Pra cumprir a lei da vida.

Fica o vinho no lagar

Dois, três dias, feito mosto

Com uma cana pra testar

Vê-se logo se tem gosto…

- Ó vindimas colossais

Vamos todos, manhã santa,

Colher uvas mais e mais

Que esta nossa já cá canta!

Frassino Machado

In CANÇÃO DA TERRA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 05/10/2016
Reeditado em 05/10/2016
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