Viver no sertão
Eu nasci no sertão
Encostadinho na serra
E aquilo pra mim era
Uma grande satisfação
À noite eu escutava
Quando a onça pintada esturrava
E menino chorava
Com medo da escuridão
Mas tudo se acalmava
Quando o galo cantava
E o dia clareava
Eu levantava
Pegava a enxada
Uma cabaça d’água
E na outra mão eu levava
Uma cuia que eu guardava
As sementes que iam ser plantadas
Arroz, milhão e feijão.
Mais tarde meu irmão chegava
Trazendo o quebra jejum
Era a hora que eu mi alimentava
Vixe como eu gostava
De rapadura, farinha e tucum.
E por ali eu ficava
Meio dia eu catava
Jatobá pra comer
E só voltava pra casa
Quando já queria escurecer
Meu pai, velhinho sentava.
No canto da calçada
E baixinho rezava
Pedindo para chover
E assim...
Outro dia se passava
Outra noite chegava
Esperando outro amanhecer
Tudo se repetia
E eu nem sabia
Que outra vida
Se podia viver