Separam-me da liberdade sete palmos de terra
Liberto-me na morte do dia, preso que estou à vida
Nuvens altas encobrem a lua, ardem montes na serra
Solto-me por entre roseiras mortas, aves de partida!
Nada me cura deste sofrer agrilhoado, solidão...
Vejo o que não vêem, o que ocultam de si
Sinto o que não sentem, e o que em si nos mentem!
O medo da vida tornou-se em insignificante,
Comparado a minha solidão, nada é edificante
Minhas vontades mudam, as tuas essas não sentem,
Sou em mim, ausente e diferente, o negro de ontem!
Só, não preencho o vazio, o espaço aberto
Que insiste em crescer dentro do peito
Competência incompleta, insignificante
Torna-me vagabundo da vida, mercante!
Liberto-me na morte, morro todos os dias
Nas tabuas que escrevo pela força do pregos
Gravo a aço, as palavras perdidas nos silêncios
E todas as que me preenchem o espaço vazio
Em que subsisto, em que vivo…
Alberto Cuddel®
In: Os dias do fim LIX