AVE DE ARRIBAÇÃO
Eu sou uma pomba triste e forasteira
Que o longo vôo cansado espraia,
Perdida nos vales de terra estrangeira,
Morrendo de sede na beira da praia.
Na exótica imagem dos arranha-céus
Meus olhos perplexos contemplam vibrantes.
Os pássaros gigantes rasgando os véus
Das nuvens pequenas, tão pálidas, distantes!
Vitrines sortidas, coisas esquisitas;
Virgens sorridentes tranqüilas nas ruas.
Moças vaidosas, formosas pepitas;
Damas coloridas, fêmeas semi-nuas.
No ruído medonho dos besouros velozes
Meu canto caboclo tristonho mistura.
Na várzea inquieta dos lobos ferozes
Meu corpo ingênuo cansado fulgura.
Na solidão dos tristes caminhos
O dia é tão longo, a noite é tão fria!
Ó Deus! Quem me dera fazer ninhos
Nos píncaros da glória e da alegria.
Eu sigo vadia de asa partida
Distante de casa, tão perto do fim!
Jogada na lama, sarjeta da vida
Tal qual vira lata sarnento e ruim.