DIAS BUCÓLICOSENSORIAIS

Tenho visto muitas flores,

não que antes não existissem

mas não havia olhos que as vissem;

Tenho visto ruínas,

não que outrora não caíam

é que as tapas me distraiam;

Tenho visto mendigos no chão,

não que antes não houvesse

é que a cegueira nos adormece;

Tenho percebido os lixos na rua,

antes eram parte do cotidiano

agora são nua e crua, insano;

Tenho visto aquilo que se percebe no silencio,

não que não haja barulho pesado

é que o ruído é um mergulho demasiado;

Tenho sentido o frescor do dia,

com alegria, a calmaria ou tempestade

pois antes só sentia um mar de densidade;

Tenho vistos os rostos cansados,

não que antes não estivessem exauridos

mas só agora não me é despercebido;

tenho visto pássaros, árvores, praças,

ou mesmo escárnio de gente em sujeira

resultado de enxergar para além da poeira;

Tenho escutado as conversas mais rasas,

vez ou outra alguma aprofundada

melhor, pois antes não ouvia nada;

Tenho sentido calor e frio,

antes eram mera mecânica das horas

agora são luares e auroras;

Tenho visto a hipocrisia,

com a máscara da verdade

espalhada por toda a cidade;

Enxergar foi necessário

pelos rochedos, falésias, chapadas

pra ver o mundo, do alto das miradas,

Tenho percebido desde a minhoca ao avião,

as cores, os gestos, calafrios e dor

as flores, os restos, arrepios e vigor!

Tenho visto mais que isso!

enfim, equinócio e solstício

por fim, desde o ócio, ao início

do norte ao confim

da morte ao fim!