SENHORA DO ALECRIM

Conta uma estória encantada

Ouvindo da cotovia o grito,

Fugiu cedo, de madrugada,

Nossa Senhora pro Egipto.

Daquela cidade os tiranos

Decretaram matar o bebé

E ela, com ele e seus panos,

Pôs-se a salvo mais S. José.

Co´ jumento que era cretino

Trotando na rústica estrada

Temeu pelo Deus-menino

Mui sofrida e angustiada.

A cotovia companheira

Avisou que era melhor

Parar ali junto à ribeira

E lavar seu rosto e suor.

Num refrescante jardim

Cansados mas a sorrir

Fruíram por entre alecrim

Um doce aroma a emergir.

O menino dormiu e sonhou

Sentindo a vida por um fio

Mas a sua Mãe enxaugou

Os panos na água do rio.

Os cueiros secaram bem

E o menino ficou consolado

Mas o seu manto, porém,

Ficava sempre molhado.

A cotovia, ouviu-se a cantar:

Pir-li, piri-li, piri-lim,

Vai, ó Maria, enxaguar

O teu manto no alecrim.

Do alecrim a branca flor,

Destacando-se do paul,

Desbotou do manto sua cor

Tornando-se flor-azul.

Era azul o manto da Virgem

E aquelas flores sem labéu

Ficaram pra sempre na origem

Tingidas da cor do céu.

À vista de tal milagre

S. José e o Menino sorriram

E antes que se fizesse tarde

O seu caminhar prosseguiram.

Chegados a Alexandria

À hora do pôr-do-sol

Já lá estava a cotovia

Poisada num girassol.

Aquela família abençoada

Não encontrou um jardim

Mas ouviu da ave sagrada

Um canto azul de alecrim!

Frassino Machado

In CANÇÃO DA TERRA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 26/07/2016
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