"PRECE ÀS ÁGUAS"

Ó colossais rios de águas mansas,
rósea criança a brincar contente.
Óh! quanta paz e quanta bonança,
que estampa em sua corrente.

Pombos em bandos voam sobre as águas, 
como penosos por sentida mágoa,
quais lenços mornos enxugando o pranto,
de vãos lamentos de um desencanto.

Que importa à alma cheia de poesia
se algum dia alguém a feriu?
A veste tosca da melancolia
é que esconde seu real perfil...

Águas rolantes num murmúrio triste,
que não resiste o apaixonado,
de relembrar velhas ilusões,
cujos botões o tornou frustrado.

A muda queixa que reclama o peito,
pelo despeito que amarga os dias,
quer que as águas que vão para os mares,
levem os penares e deixem alegrias.

Ó colossais rios de águas mansas,
levem esta ânsia que me faz sofrer,
levem o martírio, o meu padecer
e tragam-me rios de esperanças... 


(imagem do google)