Nostalgicamente

Nostalgicamente

Um riacho de águas límpidas,

retrato de uma infância,

ainda invade os meus sentidos,

entrecortado de lembranças.

Na memória, as borboletas multicoloridas,

esvoaçantes, cruzavam o ar

em sincronizados movimentos.

Maviosos pássaros canoros

enchiam o ar de melodias

a colorir minha alma inocente.

As lavadeiras a baterem roupas

e as crianças aos risos

nas águas que passavam.

Hoje o riacho sequer permeia

minha mente,

seca de águas e pensamentos.

As borboletas tornaram-se sombras

a atormentarem meus passos

numa estafante caminhada.

Os pássaros? Não mais os vejo.

Alados, voaram para onde

os meus sonhos não alcançam.

As roupas habitam as máquinas de lavar

e as crianças tornaram-se belas senhoras,

sem o riso da primavera.

As horas vorazes me marcaram

e o sol em sua força tingiu-me a face.

Restou-me a lentidão dos passos

e o esmaecer das lembranças a impedir

que eu resgate o meu tempo de menino.