Incompletude

Em mim reside a incompletude do ser,

revelada na incessante busca do que não é vão.

Assim me vê o mundo e o agudo espelho,

insistente a refletir minha transparente imagem.

Não me apego a sentimento de vingança,

embora em mim acenda a irreverente inquietude.

Não convivo harmoniosamente com meus erros

e nem me deixo ser vencido por algum insano vento.

Não me incomoda o não decifrar os mistérios

que permeiam meus passos em árdua caminhada.

Não me atrevo a atravessar abismos e labirintos

como se em mim habitasse um semideus.

Sou único. Às vezes sol, às vezes chuva, tempestade.

Aprecio os momentos de paz quando ouço o silêncio.

Sou como tantos que não se apegam à guerra

e preferem os abrigos das marquises de um abraço.

Não me apego a solidão que não seja companhia

nem aos que se escondem nas ruas e catedrais.

Não temo um tempo que é meu e que é de todos,

nem ignoro quem me presenteou com um sorriso.

Ainda me tenho em construção, apesar dos anos.

Não esqueço de mim e nem dos outros,

com quem divido os passos e o pão.

Uma certeza me acompanha:

a minha incompletude será preenchida

por Aquele que um dia iniciou a obra em minha vida.