Elegia do Eu

Caro leitor

atrás das vidraças,

não existo,

não possuo alma,

corpo,

membro,

olhos,

nada.

Há apenas

palavras

meio-amargas

organizadas

em minha

não-existência.

Escrevo

na esperança

de disfarçar

o descaso

e o cheiro

ácido

dos corpos

amontoados

sobre minha cama.

No desejo

de ser liberto

do tempo,

inimigo

da flor

murcha

e doente

dos velhos.

(já não somos jovens)

Escrevo

estas palavras

fingidas

(ou não)

de afeto

para

esconder-me

pequeno

no negrume

oco

do peito

inerte.

Caro leitor,

escrevo

na ilusão

de pertencer

aos teus olhos.

Na ilusão

de ser

supostamente

amado

e existir,

vivo,

personagem

do teu sonho.

Vini Miranda
Enviado por Vini Miranda em 06/06/2016
Código do texto: T5659116
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