Elegia do Eu
Caro leitor
atrás das vidraças,
não existo,
não possuo alma,
corpo,
membro,
olhos,
nada.
Há apenas
palavras
meio-amargas
organizadas
em minha
não-existência.
Escrevo
na esperança
de disfarçar
o descaso
e o cheiro
ácido
dos corpos
amontoados
sobre minha cama.
No desejo
de ser liberto
do tempo,
inimigo
da flor
murcha
e doente
dos velhos.
(já não somos jovens)
Escrevo
estas palavras
fingidas
(ou não)
de afeto
para
esconder-me
pequeno
no negrume
oco
do peito
inerte.
Caro leitor,
escrevo
na ilusão
de pertencer
aos teus olhos.
Na ilusão
de ser
supostamente
amado
e existir,
vivo,
personagem
do teu sonho.