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Não tenho tido muito

talvez um papel, uma caneta

um beck, um isqueiro

a luz laranja do poste e

uma vista barulhenta

a rua tem grandes olhos e

o asfalto quase fala,

tenho uma vontade súbita de

sabe a Deusa o quê

e a certeza de que não sou

daqui

o céu, daqui me intriga

e tem tanto nele hoje

que se a última vez que eu vivi foi

há 2500 anos

ouso dizer que tô bem

bem na minha roupa de nudez

bem no aconchego do meu eu

bem nos turbilhão de vidas do meu

ventre, quente

bem na minha

solitude