Catástrofe!
Escaldante sol descente negro-azulado
Ofuscando a visão da poeira seca
Vinda espalhada de cada curva na estrada
Pedras pontiagudas espreitavam-me sozinhas
Sem querer permitir minha passagem ali
Mato seco sem sombra nas árvores para descansar
Aves que já não cantam por ter seu canto perdido:
Sem abrigo saem na desesperada busca de água
Bicos secos como meu pranto pela partida
De cada criança descalça-desnuda-desmascarada
Abrigos abandonados às feras noturnas
Acompanhadas e sedentas de sangue frio
Jazem famintas nas noites soturnas
Córregos correm cansados ao mar bravio
Que em ondas desatentas abatem espúrios humanos
Icebergs em fragmentos gelam almas marítimas
Infestando praias dos restos dos peixes
Impossibilitando transeuntes trafegarem
Apenas a possibilidade da fuga se mostra
Fugir para onde? Fazer agora o quê?
Há um apocalipse em cada olhar
Semi-morto-semi-vivo-semi-fim
Refeito diante do Universo de cada verso
Em cada leito corpos agregam-se aquentando-se
Enquanto esperam um novo raio-rei
Alheios aos perigos da mísera solidão
A ineficiência da preventiva ciência jaz
Ante à FORÇA SUPREMA
Natureza-Mãe desrespeitada pela ganância humana
Despeja sua fúria desoladora pela dor que sente.
Canindé, CE. 27 de Setembro de 2005.