AQUARELAS
Tardes outonais de maio
Soprando sulinos ventos,
Horizontes em desmaio
E os sóis tão sonolentos.
Nuvens ralas e cinzentas
Lá no céu desenham mantos,
Folhas mortas rolam lentas
Aninhando-se nos cantos.
Chaminés rabiscam giz,
Anuviam os vitrais,
Vai mudando a matiz
Das varandas e varais.
Ficam nus os alfeneiros,
Pardais dormem bem mais cedo,
Nas forcas vêem-se inteiros
Ninhos feitos em segredo.
Vêm felizes para os lares
De mãos dadas, os casais,
Ternuras prendem olhares
E os amores dão-se mais.
Veio ele de mansinho
Abrindo nossos armários,
Convidando para um vinho
E aconchegos solidários.