A ALEGRIA E A DOR DO INVERNO
Me leve, me leve, vento frio do inverno!
Me leve para aquela criança
Que não sabia o que era o frio...
Me leve para aquela sensação da infância,
Quando senti o gosto bom de ter um casaco
sobre os ombros.
Quando via mendigos se encolhendo de frio,
E, quando me disseram que, de frio,
Também se morre.
( Por causa do egoísmo humano ),
E então... a infância em mim, chorou.
Me leve, me leve, vento frio de saudade,
Àquele tempo sereno
Em que, pisar nas poças de chuva,
Era toda a minha alegria...
Onde rir com um cachorrinho friorento,
Pulando de faceiro ao meu redor,
Era a suprema felicidade!
Me leve, vento de inverno,
Àquela criança serena,
Que espiava pelos vidros da janela
O vaivém de guarda-chuvas,
A correnteza da água que se formava
Nas valetas da rua,
E os pingos, ora fortes, ora suaves,
Que batiam e retiniam no vidro,
Deixando-o fosco e embaçado.
Me leve, vento amoroso,
À primeira sensação
De comer pipoca com chá quentinho,
Junto aos irmãos queridos.
Me leve para aquele cheirinho de pés-de-moleque
Degustados ao redor do fogão a lenha,
Rústico e aconchegante,
Como colo de mãe.
Me leve, ó vento de todos os invernos
- principalmente -
ao desaconchego do frio
que mata pessoas de Deus,
que não sabem do carinho das roupas quentes,
dos sorrisos alegres dos amores
que a vida ofereceu,
e da longa espera por um novo dia de sol.
Me leve, inverno da vida,
Até as crianças que nunca tiveram
Infância,
Para que eu nunca esqueça de agradecer
Pelo Amor que a vida me trouxe,
E para aliviar o frio
que o desamor humano
provoca
em seus
corações
inocentes.
Saleti Hartmann
Professora e Poeta
Cândido Godói-RS