POEMA DA ESQUINA - PARTE III
Nuvens baixas ou neblinas
Sol, chuva, ventos e tempestades
Os pés se encaixam nas pedras
Espalhadas pelas ruas
Que dobram esquinas e abrem horizonte
Até à escola
Casa segunda, lugar de amigos
E outros contemplares
E lugares diferentes
Distante de nosso mundo pequeno
Na esquina.
Os olhos se cobrem de brilho
Casas e igrejas caminham
Passam rápido à frente do olhar
Logo chega o lugar longe
Imaginado e sonhado por anos
Alto lugar, vista grande, beleza incomparável
Meu mundo cresceu e se alongou
Idas poucas e horizonte perdido
Na esquina.
Nas ruas silentes as casas falam
Nas suas imutáveis permanências
Cenário de sempre, vigilantes
Que cheiros exalam das cozinhas
E embalam cantigas religiosas
E acompanham sorrisos de acolhimento
E gentileza em cada janela
Em cada minuto de prosa
Simplicidades cordiais
Tão esquecidas
E que ainda resistem
Na esquina.
Chegadas e despedidas
Idades grandes e poucas
Povoam as casas vigilantes
E deixaram rastros nas ruas
E guardados estão segredos silentes
De gentes que aqui passaram
E deixaram suas lembranças
E se foram um dia
Como é de todos, destino
Deixando tristes olhares
Na esquina.
Nuvens e azuis se entrelaçam
Junto à chegadas e expectativas
Olhares se cruzam
E produzem sorrisos
Obrigados e alívios
Coisas de vida miúda
De cidade pequena
De gente grande
Que ainda contempla um rosto
E sabe ler a face do outro
De expectativas e de sonhos além da vista
Na esquina.
A vida passa e os lugares permanecem
Modificam-se ou modificamos
E as lembranças vão e vem
E o tempo se esvai de todo
Restam lembranças
E histórias que existem
E que se repetem
E que não se cansam
E que se recriam ou se transformam
Na esquina.