POEMA DA ESQUINA - PARTE I
Esse poema é parte do romance A CASA DA ESQUINA, cujo cenário é a cidade de Dores do Indaiá.
Saudade de ser criança
Nos sertões gerais das chuvas grandes
E das preces de mães e avós
Pelo fim das tempestades.
Tantas que atacam dos ares
Em tempos que outras também de terras chegavam.
Enquanto lá fora raios e trovões
Violências e opressões
As crianças tem seu mundo de fantasia
De alegria, de sonhos e despreocupações
Na esquina.
As pedras, tão velhas como histórias dos antigos
Já receberam águas e granizos
E pisados fortes dos meninos
No pega pega e no futebol de rua.
Sol e chuva tão fortes nestes sertões
Iluminando brincadeiras inocentes
E discussões infantis que terminavam em birras
Que logo também terminavam
Quando a bola rolava solta
Na esquina.
Madrugadas silenciosamente infantis
Mulheres antecipavam o alvorecer
E luzes se acendiam nos fogões
Num sossego profundo
Para que os homens descansassem um pouco mais
As crianças ainda sonhavam
Esperando o dia chegar, tomar café fresco
Correr sem pretensão alguma
Cadernos e lápis nas mãos, barulho inocente
Na esquina.
Tardezinha chega e a rua se povoa
Pessoas que contam casos
Pessoas que escutam casos
Gente que vai à venda e volta contando passos
Sossegado e sem pressa.
Gente que mora ao lado
Que a gente nunca sabe nada
Cheia de mistérios, olhares, estranhos.
Na infância passou todo tipo de gente
Na esquina.