A MENINA
(ode à nossa velha e querida cidade-menina Mendes)
Eu vi, meninos, filhos desta menina...
Eu vi
na ferrovia, na estação, nas amenas estações
brincarem os filhos e filhas da menina.
Da menina que deitada está entre discretas montanhas.
Da menina que se veste de verde.
Da menina que se despe curiosa frente ao espelho do futuro.
Da menina que se tornara mãe de todos nós.
Eu vi, meninos, a menina se fantasiar para o carnaval.
E senti
o cheiro do mato,
o cheiro do café,
o cheiro das meninas, suas filhas.
Eu vi, meninos, o rio tingido de vermelho
e rebanhos de sonhadores
e os fantasmas das fábricas.
Eu vi as flores. Vi as serestas. Vi os bailes encantados.
Eu vejo hoje nossas meninas e meninos
sem medo de seqüestro, assalto ou susto.
Nossas senhoras a segurar suas bolsas
sem medo das mãos ligeiras dos moleques.
Vejo os portões e as janelas abertas para as estrelas.
Vejo os homens sem medo da bala perdida:
isso não faz parte da nossa vida.
Aqui não tem bala perdida.
Isso, aqui,
meninos, nessa terra escondida
eu nunca vi.
Mendes / primavera de 2006.
Luciano Fortunato, poeta mendense.